16.4.08

Consumir e gozar! E não estocar!


Carin Mofarrej

Setenta empresárias e socialites se reuniram numa mansão do Jardim Europa, na semana passada, para ouvir uma palestra do "filósofo do luxo" Silvio Passarelli, coordenador de MBA da Faap sobre o tema. Entre flutes de Chandon rosé, cumbuquinhas de bobó de vieira e camarão e copinhos com salmão, relish de beterraba e ovas, elas assistiram à palestra "O Seu Tempo É o Seu Luxo", em que o economista, a convite da revista "Wish Report", fala sobre o tempo, o marxismo, o hedonismo -e o prazer inigualável do consumo sem grilos ou culpas de qualquer espécie.

A predominância do pensamento marxista impregnou o século 20, disse o professor. "Depois da superação do materialismo histórico, todos viveriam felizes e iguais. E eu me pergunto: como, se um tem cabelos loiros, o outro é moreno; um tem Q.I. de inteligência bruta maior, outro tem inteligência emocional?"

Já o atual liberalismo, diz, inaugurou a era do padrão individual de escolhas. Mas é preciso tempo. "De nada adianta acumular os bens se não temos tempo para usufruí-los", disse o professor. "É isso mesmo! É isso mesmo!", gritava, batendo palmas, a empresária Yara Baumgart, seguida pelas demais mulheres presentes. "Será a grande batalha do século 21: consumir e gozar, consumir e gozar! E não estocar", completava Passarelli. "Sabe a Imelda Marcos [ex-primeira-dama das Filipinas] e os 500 calçados? Será que ela os conhecia a todos? Será que estabeleceu com cada um deles uma história pessoal?" A anfitriã, Carin Mofarrej, da rede de hotéis, pede o microfone: "Eu considero um luxo fazer as coisas que você tem vontade. Fui fazer um curso na FGV, já com seis filhos, eles diziam: "Mãe, você é louca?". Mas aprendi, remocei. Nem sempre o luxo significa... óbvio, se a gente puder ter o melhor relógio, a melhor bolsa, a gente gosta. Mas usar uma sandália havaiana, em casa, é um luxo que só a idade te dá".

O microfone passa para a empresária Dayse Gasparian, que recomenda que as pessoas expressem seus sentimentos. "É preciso chegar em casa e dizer ao marido: "Eu te amo!"." Rosângela Lyra, da Dior, conta que vai sempre à praça da Sé, de madrugada, cuidar "dos meninos que cheiram crack". E completa: "As pessoas me perguntam: "Como você consegue fazer tanta coisa?". É simples. Tomei uma medida radical: não ver televisão".

Passarelli insiste na idéia de que as pessoas têm que "melhorar o seu estoque" de tempo. "Vamos perder a vergonha quando alguém perguntar: "O que você vai fazer amanhã?". Nada! Eu comprei um carro novo e vou passar o dia dedicado a esse brinquedo que eu me proporcionei. É preciso tempo para que o projeto emocional que o levou a adquirir aquele bem possa ser explicitado", prosseguiu o professor.

Para ele, é preciso "gradativamente trocar compromissos inúteis pelos úteis na busca de uma nova ética de consumo, que não seja marcada pela condenação de um produto supérfluo. Ora, quem tem condição de dizer o que é supérfluo? É supérfluo para ele, mas pode ser a diferença entre felicidade e tristeza para outro".

Fim da palestra. Carin serve sucos de uva com carambola e de maracujá com figo. A conversa continua em torno da mesa de doces -salada de frutas vermelhas, tortas, copinhos de merengue de fruta-do-conde com marshmallow brulée. Algumas das convidadas elogiam a serpente de ouro branco e safiras que Carin carrega no pulso. "Agora, sem culpas", diz ela. O evento chega ao fim.


BERGAMO, Monica. In:Folha de S. Paulo

Uso errado de conceitos, invensão de teorias alheias. Uma palhaçada, em suma. Escrevo, assim que digerir.

14.4.08

Pout-pourri do Carnaval ou Novidades Antigas I

Esse post era para ter saído em janeiro, ainda. Mas, com um leve atraso, sai agora, quase no meio de maio. Aqui não é a Bahia, mas tem carnaval fora de época - e um humor apuradíssimo, perceba.
É que vinha vindo aquela coisa toda carnavalesca e eu ainda sou muito chata e então não, eu não gosto de micareta nem de Globeleza nem de nada disso. Mas percebi que o tema é um tanto comum no meu radinho. resolvi ver se dá samba, meus sambas todos que tem carnaval. A ver.


moro num país tropical
desfilando alegrias e cores, energia, magia e dores
e os esplendores desta alegria.

deixei a dor em casa me esperando
e as avenidas fervendo suadas,
cada paralelepípedo dessa cidade vai se emocionar.

meu coração é igual,
canta meu coração, a alegria chegou
tira da garganta aquele grito que entala:
o que você pedir eu lhe dou

quando ouvi passar o bloco eu não resisti,
em retalhos de cetim eu dormi o ano inteiro
como fui feliz aquele fevereiro!
todo carnaval tem seu fim,
não vou deixar que a cinza dele suje meu quintal.

há meros devaneios tortos a me torturar




- ainda vou ser muito high tech e fazer uma coisa bem legal.

8.4.08

(contra-)Senhas: a cidade e seus símbolos I

cidades vertiginosas, edifícios a pique,
torres, pontes, mastros, luzes, fios, apitos, sinais.
sonhamos tanto que o mundo não nos reconhece mais

Dante Milano. Jornal de Poesia.


Queria escrever essas idéias há tempos. Mas me faltava ganas. E, bem, agora...
Me assusta o tanto de informações desnecessárias que bombardeiam meus dias. "Antes de entrar espere que os outros saiam". Pôxa vida. Me parece um tanto óbvio que você vai ter mais espaço dentro do metrô se quem for descer na estação já estiver do lado de fora. "Não segure as portas, isso provoca atraso em todos os trens". Não me parece estupidamente divertido machucar os braços tentando segurar a porta aberta: se os metrôs circulassem mais rapidamente com mais trens, é claro que a lotação seria bem menor. E, assim, seria desnecessário segurar portas que se fecham antes que você possa entrar. E se eu fosse falar só do metrô, eu podia escrever um tratado.
E os semáforos? Pedestres furam os sinais a todo momento, correm, se arriscam. Automóveis por sua vez - creio que o motorista perca instantaneamente a sua humanidade sobre 4 rodas - querem chegar. A qualquer lugar, contanto que seja rápido. Estupidamente rápido. Motoristas-monstro matariam todos os pedestres e ciclistas, se pudessem. Ainda que isso incluisse a si mesmo, até mês passado. Não importa. A cidade é dos motorizados. E, digo mais, dos motorizados particulares. Que ônibus devia virar pó. E aquele maldito corredor - no qual os mais inteligentes sempre podem entrar e ir muito mais ligeiramente -, idem.
Os exemplos são infindáveis. As marcas que nos atacam a todo momento. As idéias vendidas de beleza, sucesso, felicidade num pote de margarina, num creme de cabelo, num carro do ano. Os medos incitados de sair, de cair, de ser, de pensar. A massa. Desindividualização.
Quem me conhece, já deve estar cansado desse meu discursinho sem fundamento, sem teoria do auto-governo. Mas não me canso de achar que sim, cada um tem auto-governo em si e que basta que isso não seja tão completamente morto pela sociedade que incapacibilita o indivíduo de pensar por si e saber dos limites de si e sua necessidade para o outro, a forma de agir não-egocentrista, que tirar vantagem em tudo só vale se a vantagem é pro bem comum. E nunca é.
Embora pareça estúpido, eu acredito nisso.