29.6.08

- eu torci o joelho,

, mas dessa vez ninguém veio me passar a matéria de ciências. nem trouxe deliciosas cartinhas patéticas, pedindo as minhas coisas (pois meu enterro era certo). dessa vez não tem desenhos no gesso, nem propagandas, nem nomes de amigos que não tenho.
torci o joelho, mas não tive festas no quarto.

mas da outra vez não tive que dormir de lado, porque a cama é pequena, mas o amor é grande. da outra vez, eu tive mão de mãe a me espalhar os medos, carro vermelho pra me levar pra casa. dessa vez paguei o carro e foi passarinho que me levou comida, na cama.

da outra vez, eu aprendi a chochetear. e dessa, fiz flôres. o tricô virou cachecol que vai virar presente, pra longe.

eu voltei a reconsiderar o que nem pensava mais. que a calçada dessa cidade garoenta não deixa andar quem tem em si debilidade. que ir e vir é presente, grande. que esperar do outro o que tem pra si, dói. a espera é uma angústia.
(que ficar longe do aquário mais é bom que ruim.)

20.6.08

Sabe quando é indiferente.? Então, tem-me sido indiferente. Tanto faz o dia da semana, segunda, sexta, domingo. Vivo os dias com a mesma inerte intensidade. Me são indiferentes as horas. Às 10 horas da manhã, às 6 da tarde, meia-noite. Nas horas todas eu quero dormir, e só. Eventualmente, tomar um homérico porre, fumar um maço de cigarro, engolir 5 ou 6 pílulas que me façam dormir.
Não quero ir para o lado de fora, mas não quero ficar só.

Eu espero tranquilamente,
sentada,
deitada,
dopada,
que as coisas mudem e deixem de ser hostis do lado de fora de mim.


(e enquanto não muda, enquanto me desagrado, escrevo furiosas cartas à prestadoras de serviço que me tiram a saúde.)

10.6.08

Wlaker.

1. Rolou na grama, rindo. Ela tem 4 ou 5 anos. E ele é seu primeiro amigo. Se aninha nas suas pernas morenas, faz um barulho que lembra um ronronar ou um latido. É um filhote lilás de wlaker.

2. - Mãe, posso levar sucrilhos.?
- Não, tem Wlaker em casa.

3. Baixa o cd do Wlaker pra mim.

4. Acendeu um cigarro. O seu humor estava dos piores. Pena para o mundo. Wlaker era impiedoso. Atirou no gerente do banco, a menina do telemarketing ainda está em choque.
Ei, não olhe para trás agora...
PEI.

chiado. tv fora do ar.






- o que é wlaker.?

9.6.08

Ode às manhãs

Um dia eu acho que eu vou dormir pra sempre. Não morrer, sabe. Só dormir tanto que vai ser pra sempre. acordar, eventualmente, para comer. E fazer xixi. E dormir.

~~*~~

Cena 1. Dia amanhecendo. Um bando de adolescentes caminhando em grupos para a escola. Uma mulher anda só, no contra-fluxo. Tem cara de sono e trejeitos típicos de uma ressaca.

Mulher:
Eu admiro o sol, e sua intensa coragem de milenarmente subir todas as manhãs e peregrinar céu afora durante o dia.
E depois, eu admiro vocês, estudantes do Brasil, que se levantam com toda a força e toda a coragem de guerreiros, marcham pra escolas com quilos de maquiagem, as suas roupas de marca, seu charme e graça vis.
Os velhos, eu admiro todos.! Em suas saudáveis vidas, acordando junto com as galinhas para suas caminhadas matutinas em nome da saúde. (acende um cigarro, cospe no chão)

Eu admiro essa vida, bela. Suja, a minha. Imunda. Mundana. Acordem cedo, ó cidadãos de bem.! Que meu café preto eu tomo depois do meio-dia.

Cena 2. Tira a roupa, se joga na cama, geme de prazer. Dorme, enfim.

7.6.08

Cores que não sei o nome ou A vida anda - ou não.

caramba, há quanto tempo eu não passava uma sexta sozinha em casa, refém da minha mente maníaca.


~~*

Frustrada.
Nunca gozou.
Devia ter casado com o cara que gostava, mas teve que casar com o primeiro.
Bem resolvida. Mas queria um príncipe.
Acha que o sapo é o príncipe.
Frígida.


A escada rolante desce e eu a olho de baixo. É incrível a facilidade com que analiso sexualmente todas as mulheres que passam. Virgem!, eu disparo em pensamento. Não faz sentido. Mas as minhas análises só têm mulheres com problemas sexuais e homens viciados em sexo. Ou que nunca beijaram. É bizarro, espero que as minhas previsões nunca estejam certas.

O cara entrou. (Quer uma mulher como a mãe, foi a análise antes de começar o parágrafo de Pablo). Sentou-se. (quer a gostosinha do emprego, a doentiaMente, mas sabe que ela tem um namorado bombado. Mas ela deixaria o gostosão para ficar com ele). Levantou-se, sentou entre uma menina (acabou de descobrir que gosta de beijar amigas no escuro) que viajava de costas para o caminho (e eu também), e uma mulher, seus vinte e tantos (mal resolvida...) que olhou. (e pensou assim: esse cara ta me olhando. panaca. sabia que meu cabelo ia ficar muito bom, assim...). E ainda que ela disfarce, ela quer que ele olhe. Ele olha (cara machista, meu...será que ela tá dando mole?).
Me concentro no livro.
- será que sou tão maníaca que acho que todo mundo é doido também.?

Cogito digitar um número aleatoriamente no celular, discar, perguntar se quer trepar doidamente. Procuro o maço, lembro que parei de fumar.

o tempo passa. a vida anda cretina.

4.6.08

Sobre os mistérios do Universo ou O inatingível

sabe quando você abre a geladeira, tem meio limão e meia cebola no lugar dos ovos?
uma garrafa de água quase vazia e muito gelada? - e faz um frio do cão.
tem um prato vazio que quase parece decoração.
e um potinho, na última prateleira. você olha. imagina quem foi que deixou um incrível pedaço de pudim de leite. quem é que ia esquecer uma torta de queijo tão deliciosa. sabe, até, que se for bolo de cenoura com calda de chocolate você não deve comer, que certamente tem dono.

[...]

e então. com o cuidado de quem tocaria a mulher amada na noite primeira, você pousa os dedos na tampa. sente o frio, sente o calor das pontas escorrer para a tampa azul e quadrada. te emociona tanto, que você ajoelha (nessa altura, os seus olhos já estão a ponto de escorrer). você não sabe o que esperar, a respiração erra. você olha com desprezo aquela luz pálida, gelada: agora você tem um tesouro inigualável em mãos. homem nenhum fez descoberta assim antes. você merece a capa do NYTimes. e sabe disso. você planeja comer quente, um pedaço. e o outro frio. o pote é pequeno, mas seu conteúdo não acaba jamais, você sabe.
trêmulo, levanta a tampa. semicerra os olhos, para apreciar o aroma - será doce? cítrico?

[...]

o inacontecível, o intangível acontece. no cheiro - você não acredita. parece um feijão. ou uma sopa de alguma coisa. levemente marron. levemente verde. nas paredes do potinho, um caldo branco, viscoso. você, num último impulso, num arroubo quase brutal cheira, a fim de provar que é um iguaria. quando o estômago parece querer saltar, é com furia que encaixa a tampa e joga na última prateleira, bate a porta, se pergunta se foi tão cruel, a ponto do universo todo conspirar contra.

- vai dormir com uma limonada de meio limão e água gelada (lavou o suco no vidro sujo de açúcar).
naquele segundo último antes do mais profundo sono, lembra de jogar fora aquela gosma.