26.8.08

amôres brutos.

você vem quieta no meio da noite
sussurra ao meu ouvido
me arranca da cama.
durante horas eu sou tua
enquanto eu devia dormir
(eu te amo em segredo, sem que ninguém veja)

acordo sem forças para o dia
enquanto você dorme serena no travesseiro.

você abusa de mim como se eu fosse a sua escrava
porque sabe que eu te amo
e que eu te amo tanto que eu nunca digo não
- não importa o quanto seja necessário o não.!
eu sempre digo sim
e quando acaba, eu sempre quero mais
eu preciso de mais
porque você é vício em mim.

você sabe que eu quero só você
só você e ninguém mais
me faz acreditar que é só minha
quando se joga ao meu lado no meio da madrugada
mas eu sei e você sabe que é de muitos.

enquanto a solidão me afoga no meio da noite
você se enrosca
- vadia -
entre outras pernas
entre outros braços
entre quaisquer pernas
e quaisquer braços
como uma puta.

mas quando volta
é minha doce amante
minha primeira namorada...

você mente!
eu me apaixono
me perco.
porque você é barata e bonita
me abraça quando tenho frio
e me beija a boca quando amo
e você me faz crer que eu posso tudo
quando você sabe, Palavra, que eu não posso nada
você se faz versos, Palavra, em minha boca
quando eu só queria um abraço.

a Palavra vem
(ela sempre vem)
mas só quando ela quer
e nunca quando eu peço.



- e ainda que eu me arraste, ela não vem. são dias de lágrimas, e ela não me quer. enquanto tanto, eu espero. eu roubei de mim mesma, palavras do ano passado.

5.8.08

O homem é sal. A lágrima é sal, o sangue é sal, o gozo é salgado, suado. De tanto sal, o mar é homem.
Olhava sua humanidade brutal. Tão sensível, que era brutal. Seu ir e vir, seu sal. Seus mistérios encarcerados: sua onda. Era homem: de uma vastidão imensa, que em olhar para um ponto era perder uma vida inteira.
Tive desejo.
Eu era mulher, e desejava seu cheiro de homem. Sua força, seu abraço, seu sal.
Fingi indiferença, com ares de mulher. Deixei o pé, distraída. Tocou-me com o branco da espuma. Fiz que não senti. Lambeu as pernas minhas: era a volúpia do sal, frio. Me deixei ir. Arrepiou minha pele o toque sereno. O desejo velado. Tocou meu sexo, entre véus. O que velado era, a imensidão do céu não via. Turvavam as águas, eu fechava os olhos: no escuro não há pecado, não há segredo, não há mistério.
Eu não sabia nada. Eu via o que meu Homem Mar me deixava ver. E nem tudo eu via! Eu lhe era inteira, distraída, fingida. Fingia o acaso dos seios nus, o acaso dos lábios ávidos, o acaso do corpo oferecido.
Abri a boca, o caminho do ar era muito. O prazer era do ventre, e era o ventre que fazia a voz: o mais profundo gôzo era sonoro, era abafados pelo acaso do som, do sal.
Abro os olhos, me vejo nua, seca, muda. A lingua tinha sede de sal. (O mistério da onda é tanto, que eu tenho medo do mar.)





- pros poucos, porém queridos que vêm me ver, eu deixo um beijo. que o mundo cresceu demais, e eu não posso ficar aqui parada. outras férias virão. agora o tempo é de livro, papel, caneta.