Era um amor bonito, de uns bons anos. Marcaram o grande dia. O casamento.
Ela escolheu o mais lindo vestido; e foi com linha e agulha que bordou os sonhos todos no corpete.
Ele, era o fraque mais clássico que enchia seus olhos. O mais preto. Viu naquelas costuras firmes a mais profunda galanteza.
A diadema brilhava, feito estrelas.! Era tudo quanto havia de se realizar no caminho. Era princesa.
Artista, de cinema. Dos anos 30. Mocinho.! Tudo culpa das luvas brancas.
Com amor, ela escolheu a gravata mais sóbria. Com a honra do avô, lustrou os sapatos cor-de-noite.
Branco o sapato, de salto. Branco o véu. Era como olhar o manto da Virgem.
Eles esqueceram seus pecados.
Era o mais perfeito rosto, maquilado. Era o anjo branco, que lhe caía nos braços, para todo o sempre.!
Uma lágrima caiu. A beleza dos olhos virginais mais pareceiam os olhos de viúva. Jogou para trás o buquê, nunca mais lhe caíram flores nas mãos.
Ele se embebedou, noite após noite, no cheiro do álcool, no gôzo das outras. O mocinho cheirava mal.
A princesa sumiu, aos poucos. Debruçada nas panelas sujas, atrás das pilhas de roupas, embaixo do nome Amélia.
O galante virou marmanjo no sofá, cerveja na mão - que não cabia mais carinho - , o futebol no olho - que não entrava mais donzela.
Enfiou, junto com o corpete, os sonhos num saco, que jogou no maleiro do guarda-roupa. Comida pras traças, roído pelo esquecimento.
Só se veste de branco uma vez na vida.
Só se veste de branco uma vez na vida.