30.11.08

doer de amôr.

em algum lugar do passado, eu amei todas as grávidas. e, ainda hoje. as mulheres-ovo atraem meus olhares na rua. são a perfeição. a divina perfeição. e as amo com toda a intensidade que se ama o perfeito-abstrato. o que não se pode tocar.
foi-se também o tempo em que as olheiras me atraíam. foi-se o tempo, ficou o desejo. mulheres pálidas, lânguidas, cansadas. aquela sensualidade roxa sob os olhos, os cabelos no rosto, o cigarro nas mãos trêmulas. tem uma beleza diferente. um silêncio, uma aura. noir. às vezes acho que é uma beleza que só eu vejo. só eu sei ver.

e agora, acho que estou pendendo de amôr. é assim. muito sentir, muito querer. sei amar uma cantora. uma atriz. um escritor. um pianista. o vizinho que finjo não ver, e me olha, e finge que não me vê.
eu amo todo mundo. desejo, o mundo. quem já vi e quem ainda vou ver. e já não ligo pros cabelos, cores, idades.
hoje, nada dói. porque há amor.

26.11.08

luane. o rosto vermelho do sol do dia, o rosto afogueado da corrida da noite. chuviscava, e corria. no meio da madrugada, era toda sonho: desejo, necessidade, vontade. subia as escadas, pra perto das nuvens. luane chegou num céu, sem estrêlas.

respiro. sorriso. a paz de estar em casa. a menina morava numa cidade de vidro. e, lá de cima, cada casinha era um lume, cada lâmpada uma estrela. e, se fosse sonho, não era tão bom. luane quase se morria de tanto prazer. de olhos, a girar. e então. bolou um plano.

que era passarinha avuadêra, ela já sabia desde que o tempo é tempo. mas, naquele tempo-espaço, ela queria era lançar-se no céu-de-giz. catou retalho, agulha e linha. teceu um par de asas, que tinha côr de sonho e gosto de gôzo.


avuou.


23.11.08

12.11.08

ajoelho.
fecho os olhos, e finjo rezar.
não rezo, porque ninguém nunca me ensinou.

a saliva é ferro, puro.
a voz é vermelha, intensa.
chovem estrêlas, que me enchem a casa.

(num sono sem sonho, o passado desaba na minha cabeça. o teto, os fantasmas, as cinzas. o fracasso tem gosto de vitória.)

11.11.08

O céu nublado, a noite já se alonga. Respiro fundo. É bela, a rua da minha casa. Por vezes, acho que o peso da mochila pode cortar meus ombros. E rio. Descer a rua de casa, sozinha, virou um desábito. Coisa que muito me chateia, que é só em solidão que a rua transborda em poesia.
Sinto o vento em brisa, lambendo a pele em brasa. Duvido de antes. Houve alguma noite antes de hoje.? O barro no meu tênis velho, rasgado. 'Muitas noites, antes', ele me diz. A voz rouca, a pele queimada, as marcas: tudo aqui. Corrompendo tempo-e-espaço, meu passado coexiste em mim agora. Tudo em mim palpita.
Fecho os olhos. 24 horas antes, eu estava em cima da pedra mais alta. A insanidade fazia minha mão tocar deus, e deus existia. Deus era azul, com estrêlas. Deus tinha caule, folhas, raízes, orvalho. Deus, era tudo e nada, era a pedra, era cada um de nós. Era a fumaça, o liquido, o sexo. Profanodeus, era deus de verdade. A pedra fria me abraçava inteira, meu umbigo era cordão umbilical de deus. Eu, mãe; eu, filha. O mundo e eu num infinito, sem começo. Respirei fundo, e existir era simples.
O céu cheio de sol, lua, estrêla. De resto, era tudo vaidade.

~*

(felicidade demais assusta.?)

7.11.08

amôres brutos.

você vem quieta no meio da noite
sussurra ao meu ouvido
me arranca da cama.
durante horas eu sou tua
enquanto eu devia dormir
em te amo em segredo, sem que ninguém veja

acordo sem forças para o trabalho, mas eu vou
enquanto você dorme serena no travesseiro
você abusa de mim como se eu fosse a sua escrava
porque sabe que eu te amo
e que eu te amo tanto que eu nunca digo não
não importa o quanto seja necessário o não
eu sempre digo sim
e quando acaba, eu sempre quero mais
eu preciso de mais
porque eu tô viciada em você
você sabe que eu quero só você
só você e ninguém mais
você me faz acreditar que é só minha
quando se joga ao meu lado no meio da madrugada
mas eu sei e você sabe que é de muitos
enquanto a solidão me afoga no meio da noite

você se enrosca
vadia
entre outras pernas
entre outros braços
entre quaisquer pernas
e quaisquer braços
como uma puta.
mas quando volta
é minha doce amante
minha primeira namorada

você mente! friamente
eu me apaixono... loucamente
porque você é barata e bonita
me abraça quando tenho frio
e me beija a boca quando amo
e você me faz crer que eu posso tudo
quando você sabe, Palavra, que eu não posso nada
você se faz versos, Palavra, em minha boca
quando eu só queria um abraço.

a Palavra vem
ela sempre vem
mas só quando ela quer
e nunca quando eu peço

5.11.08

Ervilhas são verdes gotas. Pingam redondas, perfeitas. Da áurea perfeição, faz-se muitamente metades. Sólido degradé se enrosca numa fundura infinita, de prazer latente.
Deixo de ser organismo. Eu inteira sou dedos, pele, tato. O carmin de mim já não inspira volúpia. O carmin é desejo-de-carne, inteiro. O desejo tem verdecôr.
Num gôzo silencioso, reviro os olhos. Afundo dedos no íntimo verdejante do sabor escondido. Arfo. É doce existir. É doce ser tato, memória, desejo.

(o mistério da lingua coexiste na água-de-pular, e sal.)




- era dia de sonho. havia a vontade de Amelie Poulain. e, tinha na memória Charlie e Lola ( 'eu nunca, nunca mesmo vou comer tomate')

3.11.08

Pout-pourri.

Inspiro. Vejo as côres que me inspiram. Respiro. Solto ares de álcool, e alegria. Genuína. Rearranjo, em letras, os sonhos. Amo. Sonho amigos de perto, amigos de longe. Numa porção de fotos, eu vivo. Eu amo entre versos, eu rio. No Rio, eu vivo. De pedaços de sonhos, de vontade de amôres. Eu sou.

Eu, venho aqui pra dizer que sorriso hoje é lei. E que palavra-melancolia é isso. É todo dia. Que palavra só é bom se doer.


~~*


Ela ri. Eu sei, porque sei. Ela vive. Eu sei, porque viver a palavra é a mesma. Ela ama, porque o som é o mesmo. Divido a minha alegria, com ela. Que é alegria de sempre. Não ligo o meio, o tempo-espaço nunca me gostou, mesmo. Mas, eu quero dizer. Sorrio. Faz parte ainda do que me faz forte. E nuncanunquinha infeliz.




para Jaya, amiga lírica, devoradora de letras e companhia que quero pra sempre.