26.10.09

ela assoprou, e disse:

- sente isso?
- sinto.

meio sem jeito, ela se enfiou de volta no livro, pra fingir que não olhava o jeito que ele olhava o mundo.

11.10.09

[ d o m i n g o . ]

Pouco usual. Pouco peculiar.
Hoje o mundo me é confuso, e lento. A cidade me apetece um pouco mais, com essa despersonalização, descarrificação. O céu azul, isso não parece ser daqui. Essa bossa meio eletrônica de nome francês faz as músicas parecerem novas, mesmo sendo velhas. Escrever olhando a janela, de frente. Faz o amor parecer velho, mesmo sendo novo.
Rejuvelhecer.
A noite meio caótica, eu era velha, não muito dada a esse ar juvenil-infantil, os hipotéticos 40 anos me pesando os olhos. Assumo agora a atemporalização de tudo, e não que faça sentido ou seja bom, é só isso.
O sol aquece os dedos, meu olhos me olham através de óculos, na tela. Eu sou uma pessoa melhor quando fumo.


Cogitar esperar o dia lá fora é quase imaginável.
Às vezes perder o tempo é bom, e não perdido, e nem ligo dele passar.
Já não ligo pras quantidades, quando descubro a intensidade.

Intenso é ser eu, quando não sou.
E basta.

2.10.09

fastio

fome, quanta fome, meu deus.
ensaiei uma comida, que não tinha gosto. que fome.
ensaiei um telefone, mas não sabia pra onde ligar.
tentei dançar, sozinha; e nada.
a fome me corroía.
nem a cerveja, nem a janela, nem a cidade, nem nada de nada.

as aquarelas, o nankin, as fotos.
e a fome.

então, um saco de pregos. bem pequeno, estavam todos enferrujados. com a ponta da língua provei uma das cabeças, que os lábios logo sorveram todo o corpo.
um, dois, dez pregos.
tinha gosto de jantar, e de sobremesa.



- dá-me pregos! amor, compra-me um saco de pregos, que tenho ganas de comê-los...!