20.9.10

a saudade é um jeito estranho de sentir saudade de alguém.

sabe que já faz tanto tempo que eu achei que eu não ia lembrar, eu não ia querer ainda dividir a vida, mas eu quero. você era a melhor companhia. no corredor, no sofá e de concha. você é como a parte mais bonitinha que eu ganhei da vida. porque a gente nunca precisou brigar. que às vezes a gente podia chorar no colo sem dizer nada, encher a cara e rir, ficar horas esparramados sem dizer nada, fumando cigarros.
saber que você chora, e eu não posso te abraçar, nem te dar presentes de ano-novo, bolhas de sabão ou burlescos é como um castigo de um crime ainda não cometido. a sua dor me dói, e é meu jeito de dizer que amo. lembra quando eu te contei que as crianças choram todas quando uma se machuca? eu sou assim. tou costurada em você, e quando você sangra machuca em mim. e ter de fingir esquecimento me faz sentir hipócrita.
meus olhos ainda se enchem de sal. falta sempre alguma coisa. porque você era pra sempre, e eu não sei entender nosso fim. porque um fim? eu ainda forço hiatos, para que o fim seja breve, se reate num nó e que eu ainda coloque um véu na sua cabeça.
e só resta cantar beatles bem alto. porque a alma é de borracha, estica, e brilha. e ainda que de todos os amores e amigos, eu me lembre mais de você, nada é real.

- é duro admitir, você estava certo. amor não é um troço simples pra caralho.

18.9.10

há uma semana, ele não existia, e agora parece conter todos os meus tempos.
um homem que nasceu num domingo a noite, das mãos de quem entende meus mais profundos. e agora, o homem me põe louca, me engole a vida, parece entender tudo aquilo que eu não consigo verter em palavras.

uma mistura de psicanálise, amor, sexo e meus anseios mais desesperados, e eu nunca gastei uma semana inteira com um livro tão curto. prefiro ficar com ele a sair pro mundo, e ele dispara o coração e me dá sudorese nas mãos trêmulas.

eu preciso terminar esse livro, senão eu enlouqueço.
eu não posso terminar esse livro, senão eu morro.

12.9.10

Tempo a gente tem - e continua a ter.

E por achar que estar na janela, eu cansava de esperar quem não vinha, quem eu não esperava veio, do mais lindo, do mais antigo, do mais grande baú.

E me fez sorrir.

2.9.10

O Maior Medo Do Mundo [ou Só os gatos são sinceros]

Eu tenho um medo cego de cachorros. E hoje pela manhã, enquanto o sono excessivo e Mutarelli embotavam meus pensamentos confusos, eu fiz uma das coisas que mais tenho medo. Olhei os olhos de um cachorro. Não me lembro da última vez que fiz isso. Infelizmente, não é uma metáfora. Eu estava sozinha, de frente com meu medo. Olhando nos seus olhos. Não consegui correr, nem gritar, eu só olhava aqueles olhos muito azuis, indecifráveis, sentia as pernas moles e sabia que a qualquer momento ele podia me morder. A minha sensação era de que muitas horas tinham passado, mas provavelmente a cena não tenha durado nem um minuto, e seu dono o puxoiu pela coleira.
Aproveitando minha onda lacaniana e pouquíssimo lacônica, deixei os pensamentos fluírem. E quem sabe meu medo seja muito mais complexo do que eu imagino? Atráves dos milênios, os lobos foram tolhidos para satisfazer essa imensa solidão humana. E sob todo aquele pelo, a sua natureza selvagem foi armazenada, reprimida, guardada. O homem poliu a servidão do cão, que foi privado de seus instintos, se transformou em joguete humano.
Talvez eu perceba a sua alma, a sua essência bruta, livre, irascível. Talvez, cão, eu saiba de seus instintos suprimidos, talvez eu acredite em todo o seu potencial.
E onde entram os gatos nessa história? Os gatos se deixaram domesticar; mas não se tornaram outros. Um gato nunca é de alguém, ele caça, ele independe dos humanos. Um gato não sofre, não serve, um gato não foi negado. O gato se manteve acima de nós. Acima da nossa vontade de transformar o outro no que nos agrada.

Canis, desculpa por nós, humanos, sermos assim. Te quero lobo. (E antes de chegar ao trabalho, o medo foi embora, e se estabeleceu o mais profundo respeito por mais um gueto que criamos.)


para meu querido Ettore.