29.11.10

Eu queria escrever exatamente como me sinto.

Mas acho que ainda não inventaram as palavras que eu preciso.

(Inventa umas palavras pra mim, como a gente fazia?)

23.11.10

Testamento.

O amor, meu bem, não faz cartas de despedida. O amor não arruma as malas, não faz a cama antes de partir. O amor não avisa, não pensa, não compra passagens antecipadas.
O amor age de sopetão e não espera para ver as consequências. O amor anda e volta atrás, o amor refaz caminhos e desiste deles, como quem começa. Os caminhos dele não tem rumo, porque para o amor, a velocidade é mais importante do que a direção, Clarisse, vai ser sempre assim.
O amor não tira férias, ele morre pra nascer de novo, com outros cheiros e outros desejos, mesmo que ainda seja o mesmo. O amor não ressuscita no terceiro dia, ele ressurge das cinzas. Moribundo.

(Não espere que eu te ligue. Não espere que eu te espere. O meu amor pegou um barco que saiu na última lua cheia, para mares nunca dantes navegados, e nenhum de nós espera que ele mande um postal.)

20.11.10

GENTE!!!!!

Eu fiquei indignada. Como lidar??? Os homens da nova geração estão virando sapatas???? Eles tem cabelo de Maria Gadú e tudo cara de me adota!!

CADÊ OS MACHO??? Peludos, suarentos, que tomam CERVEJA (porque esses daí devem tomar virgin sex on the beach com suco de laranja diet, NÉ?) e chamam as gostosas de HMMM, GOSHTÓÓÓÓÓSA?? Tarantino, dá uma aula pra esses zé ruela? Pra eles ouvirem música boa, usarem roupas decentes (calça justa, gente? DE LYCRA? WTF??????) e saberem usar uma arma?

PEDREIRO QUE É HOMEM, ISSO AÍ TÁ TUDO TRABALHADO NA PARIS HILTON!

pronto, fiz meu desabafo. qué isso!

18.11.10

lacuna inc. é o caralho.

não, eu não quero esquecer.
porque eu nunca mais vou errarvocê de novo.

(eu quero me lembrar de tudo, com o que agora é rancor, porque depois eu vou ser eu, enquanto você se fode. a lua bozinha saiu de férias, deixe seu recado após o sinal... . . .. . . .
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.)

6.11.10

Cabidela.

Acordou muito cedo, aquele dia. Escolheu as músicas mais animadoras e, de janelas abertas, deixou o sol entrar e limpou toda a sujeira. Guardou os tapetes, para que permanecessem intactos. Com os braços apoiados na janela, tomou um café e fumou um cigarro, enquanto mentalmente imaginava todas as cenas, os gestos, os risos. Tudo seria perfeito.
Amarrou o cabelo e colocou uma roupa de todos os dias, foi ao Mercado Municipal. Comprou os melhores vinhos, os melhores queijos, as carnes mais finas. Gastou todo o dinheiro guardado há anos, mas sabia que valeria a pena.
Na cozinha, era de imenso esmero. Ágil, em pouco mais de dez horas ininterruptas, estava tudo pronto. O tão sonhado banquete. Caldo, puré, peixe, carne tenra, pequenos gracejos - mais bonitos que nutritivos, assados, sorvete, cogumelos, pequenos pastéis assados. A sua sobremesa tão afamada, que não poderia faltar já descansava na geladeira, as frutas muito suculentas, os queijos finos já cortados em tamanho de uma mordida.
Como num ritual, deixou a água do chuveiro quase fria, e livrou-se do cheiro da cozinha, do seu próprio cheiro, de todos os cheiros vivos. Queria apenas uma leve aura perfumada, incógnita. Arrumou os cabelos com uma elegância que não lhe era própria, entrou num vestido preto, os pés num salto alto, a maquiagem perfeita. Com uma grande flor vermelha no pescoço, estava pronta para a sua noite.
Os amigos chegavam, um a um, e ela os recebia com um beijo carmim nos lábios, e uma taça de champanhe. E quando estavam todos acomodados, começou o desfile de sabores e cores, regado a muitos vinhos. As conversas seguiam amenas, até que o prato principal foi servido, o vinho já fazia efeito e começaram as juras de amor, os dizeres da saudade, as promessas irrecuperáveis. E ela sorria, displicente, pronta a trazer o próximo prato.
Foi só durante o brulée que ela deixou algumas emoções subirem à face, e amou muito todos os convivas. Durante o café e os cigarros, traçaram alguns planos, que ela desistiu de argumentar que não aconteceriam. Os queijos vieram, e todos já muito etéreos e etílicos apenas deixavam a música fluir.
Ela, por fim, trouxe morangos, pitangas e amoras, que tingiram de vermelho os dedos e os lábios, causaram risos e incitaram beijos. Demorou um minuto a mais para servir o licor, e todos dormitavam entre espirais de fumaça.
De mãos limpas, afagou os cabelos, tocou os lábios e jurou eternidades, sabendo que essa promessa não morreria. Com a faca de carnes, matou um a um. Lentamente e sem culpa, sabendo que mortos, eles não despedaçariam seu amor.

3.11.10

[do amôr, VII]

Toda noite antes de dormir, ela me perguntava, já de olhos fechados: "Você me ama?", enquanto me estreitava num abraço já frouxo de sono. E eu sempre respondia que sim, muito, e lhe beijava a testa. Não me lembro de uma noite em que ela não tenha me perguntado. E nenhuma noite em que eu não respondia com prazer meu amor inteiro.
Até que numa manhã, enquanto eu espantava com água o sono dos olhos e as espumas preparavam a boca pro primeiro beijo do dia, ela olhou nos meus olhos, pelo reflexo do espelho. E como se não fosse ela mesma, de olhos bem abertos, perguntou:
- Você me ama?
E sem saber o que dizer, pelo espelho a vi partir pela porta, sem dizer nenhuma palavra.