23.12.10

Carrega a saudade pra lá - mas deixe minha viola

Rasguei as suas cartas, queimei as suas roupas, esfreguei as manchas dos orgasmos dos lençóis. Rasguei também esses lençóis antes de queimá-los. Difamei seus versos mais bonitos, Carulina, passei tinta nas paredes que anunciavam a o nosso amor, porque dele não sobraram nem as mentiras. Vou destruindo nossa cidade aos poucos, porque todas as mulheres riem seu riso e evocam seu cheiro, de jeito mais ordinário.
Penso nos seus quadris vadios que embriagavam no seu ir-e-vir. Desejo mais uma noite para me incendiar, terçã - mas sempre a noite última é a primeira. É sempre um capítulo novo do romance sem pé nem cabeça. Não sobrou o carinho, não sobrou ternura, Carolmulherminha. Mas ainda desejos seus ais arrepiados.
Seus olhos tristes guardavam nosso amor, Carulina. As rosas mortas por cima do tapete, as guimbas que refumo sem ânimo para novos cigarros. O barco que partiu do cais naquela noite de lua levava um casal a se devorar. Você navegava, eu, ancorado, sofria a sua falta.
Eu te apago, Carulina. E você cada vez mais incidente, tatuagem.


Cala boca, amor.



A Carolina é do Chico, mas as frases desconexas são pro Ariel.

18.12.10

Beijos explodem como bombas ao anoitecer.

Porque eu passei 21 anos planejando coisas que só deram errado. E agora tudo dará certo, de improviso. Ou não. Mas pelo menos vou gastar menos tempo com planos infalíveis.

Não tenho muito pra escrever, empirismo é um troço meio chato. E estou empírica. Mas eu adoro a Brenda, a Cristal, a Flor, a Jaya, a Lulu: nem sempre leio, é verdade. Mas não por falta de vontade. Tem as meninas que eu não sei de onde vêm, e os caras que me assustam. E Anônimo, que já me fez sonhar demais, eu te gosto, também. Mas as palavras são poucas - e têm perdido a importância pra mim, mundo injusto.

Pra quem me lê, eu volto depois de ter ido lá do outro lado, dar um beijo real num amigo virtual.

E, para terminar o ano.

Alice tirou a roupa preta, porque diziam que era tempos de vestir branco. Como se não fossem mesmo tempos de guerra - ela pensou, muito embora não vestisse luto; seus olhos eram muito azuis e suas idéias muito coloridas, não precisava de outras roupas para ser leve. Nua, perto da água, Alice fez aquele velho ritual. Respirar, sentir, coexistir. Era estranho ter que terminar coisas só porque os dias queriam assim. Mas ela não se importava, e com calma alinhavava os últimos bordados daquele ano. Não pensar, não calcular, não planejar.
Com um impulso decidido, mergulhou. Para os mistérios daquele lugar desconhecido, futuro.