26.3.11

Feliz aniversário.

Eu pensei em te dar uma rosa, que nem a que brotou do seu braço. Então nós dois ficaríamos muito vermelhos, como a rosa mesmo, e antes de eu saber seu nome, ela teria morrido.
Eu quis muito te fazer um chaveiro de folha, com linhaça e alecrim. Mas depois de pensar sobre isso me achei muito boba.
Até achei que dizer feliz aniversário era demais, mas te tocar a mão, quase-sem-querer podia ser bom. Mas a coragem, cadê?

Cabou que esqueci seu aniversário, docinho, e não vou voltar lá para dizer que esqueci. Problema resolvido, solidão consolidada.

23.3.11

Acabou chorare

Nada aconteceu. Veio acabando-cabando-bando-ando. Foi tudo mudando, a lágrima não persiste, sorrir é fácil, amor é mais fácil.
no meio do mundo
Eu sigo amando, muito. Um-dois-três-todos. Eu sigo sem o peso de ser só: isso lá é bom? Caminhar com os próprios pés pro destino que eu decidir, foi o que eu resolvi fazer. Sem esperar.
respirei eu fundo
Eu abri os braços para tudo quanto eu tinha medo de que existisse. E existe, em mim. Eu deixei o tempo passar, e ele foi macio. Ele levou os pesos, deixou as doçuras. Outros pesos hão de vir, mas eu vou seguir em frente.
(...)
Sem dramas. Sem brigar com o Tempo. Sem sofrer a idade. Envelhecer é isso?

20.3.11

Domingo sem parque.

Está definitivamente frio. É domingo, e o sol não saiu nem para um bom dia. É domingo, e sinto o cansaço de uma sexta. Mas não me importo de estar trabalhando: ligo o automático e deixo as músicas mexerem tudo que tem dentro de mim. Eu me sinto feliz por ter debutado tão bonitinha nas aulas. Eu serei professora, dá pra acreditar? Logo eu! (e dava pra duvidar?)
É engraçado como de repente eu calhei de ter responsabilidades, e isso não muda o fato de eu ser isso que todo mundo já previa que seria. E eu ainda sonho, ainda rio, ainda vivo de amor. Parei de trabalhar pra ler meu blog - e acho lindo. É muito amor pra uma Lua só, e é mesmo. E eu não quero que pare, eu não quero que acabe. Eu achei lindo de me dizerem que eu levei amor pra uma turma lá. E sem querer. Todas as noites eu agradeço os amores que me sobram do dia todo.
As paredes continuam desenhadas, o meu espírito continua muito livre. Está definitivamente frio para o meu aniversário. Eu não quero os parabéns, eu já tenho tudo o que eu preciso. Acho que não tem ninguém vivo para lembrar. Mas desde 2006 até 2010 eu sofri muito para aniversariar. Eu chorei muito, eu não quis. Agora, eu só espero o futuro que me espera.
É meu último domingo. Não tem sol. Não tem parque. Mas tem EU, resistindo ao mundo adulto, resistindo a virar pedra.

Obrigada por todo mundo. Que vem, que lê, que sente junto. Por quem não lê, mas vive junto, tudo a pulsar. Obrigada por quem sonha, obrigada por quem sente, obrigada por quem ama.

Eu estou pronta para todo amor que houver nessa vida.

18.3.11

Paixão em flor.

Um beijo, meio roubado. Um beijo sem expectativas. Um beijo escondido. E só um beijo.




para a Mar, que divide comigo a espera da paixão.

14.3.11

moleskine #1

entre por essa porta agora. essa porta que você nunca viu, mas eu já abri e espero - ansiosa. entre por essa porta porque agora só tenho os tapetes pros teus pés passarem, a fanfarra te espera e os confetes já grudam nos meus dedos suados. entre por essa porta porque eu vou fazer um reino da alegria, nem que eu precise tentar todas as chaves. entre por essa por agora. porque eu desmontei meu mundo de lego e espero o seu aval para encimar as pecinhas, do jeito que os seus acordes me disserem. meu coração espera trêmulo um sim ou um nunca mais. a minha voz vira um carretel na garganta e só sobra um riso bobo. parecido com soluço. com vaga-lume. com garoa. joaninha. um riso bobo que parece, ora bolas, com amor. eu queria te dizer tudo. queria não dizer mais nada. queria que tudo virasse algodão doce. eu queria meus pés de volta no chão.

M E N T I R A .

e viva a nação do amor.

(13mar11)

12.3.11

Emaranhado.

Percebe o ar? Cheiro de perigo, adrenalina. Vai acontecer, está a um passo. E vai explodir, como uma ejaculação cósmica. Como um grito surdo, como um silêncio arrebatador. Tenha pressa, fuja, vai acontecer. Fique desperto para absorver tudo.
E eu não quero sentir nada além, depois do acontecido. O fim do mundo, uma nova era.

9.3.11

Tá tudo errado.

O melhor das histórias é que ela são muitas. As que aconteceram, as que não aconteceram e as que nunca vão acontecer. E, claro, as que não devem ser lembradas mas não podem ser esquecidas. As histórias de rir, de chorar e de doer. Os personagens que eu não sei o nome, as datas que se embaralham na idéia. Um só lugar, uma personagem. E tudo que fez meu mundo mudar de lugar. E o melhor, é que as histórias não precisaram ser contadas nem lembradas. Porque em um ano serão histórias novas.

Camisinha feminina gigante. Ode à alegria. Prato feliz. Absinto-whisky-cerveja-dréier. Vizinhada. Amor coletivo. Ponto de abdução. Lama. Kaiser quente. Chuveiro gelado. Poncho. Lomo. Dupla face. Live only once. Papelzinho mágico. Pizzadália. Plantar árvores. Biodança. Conjunto cheio, conjunto vazio. Casacos e cooler. Ponto de intersecção. Isso não é a realidade. Eu não vou embora. Vagner. 1/4. Platô. Mesa de sinuca gigante. Pavão imaginário. Viagem no tempo e no espaço.

E todos prontos pro amor.

3.3.11

A lógica do corpo.

Eu abusei, ele cede. Não é porque eu acho que andar na chuva faz bem pra alma que o corpo também sinta isso. Também não é porque eu não veja sentido em trabalhar tanto e não poder ficar acordada a madrugada, se eu quiser, que vai estar tudo bem. E não é porque eu me sinto um pouco doente que isso seja motivo para engolir um monte de remédios. Foi de pouco que eu adoeci, vai ser de pouco até me reestabelecer.
A cultura do harder, better, faster, stronger não aceita que o corpo sabe se cuidar. Não adianta só comer porcaria o ano inteiro, nunca tomar água e quando adoece se encher de vitaminas. Vitaminas são processo, não panos quentes. As pessoas acreditam ter o controle de tudo. Agora liga, agora desliga; agora trabalha, agora descansa. O corpo faz o seu próprio movimento e eu não vou me opor a isso. Estou doente, e é o que tem pra hoje. Eu não vou tomar pílulas de cafeína para estar mais ativa no trabalho, eu já estou aqui, quando preferia estar na cama.
Eu me respeito, eu tento me entender organicamente. Eu queria que as pessoas se enxergassem não como reféns do seu corpo, mas como o seu corpo. Me agonia as constantes reclamações de estar gordo, estar velho, estar dolorido. Parece uma sabotagem do corpo a tão elevado espírito ali aprisionado. Ninguém se dá conta que o corpo está fazendo o melhor, de acordo com o que você dá a ele. E é o espelho mais sincero do que se passa nesse espírito.





bônus: A lógica da febre.

Mentira, não existe nenhuma lógica na minha febre. É sempre durante ela que eu atravesso a linha entre sonho e delírio, a linha entre consciência e loucura. Como numa viagem de ácido, a febre deixa a minha pele hipersensível, meu sistema motor amplamente afetado e as alucinações visuais - e sensoriais - tomam conta do tempo em que a febre acontece. Às vezes, as sensações são muito boas, outras vezes, pavorosas.
O corpo me presenteia com o descontrole mental e sensorial que tanto aprecio, enquanto trata de me botar saudável. Ontem, um sonho real veio chegando, cada vez mais perto, e quando eu dei por mim, já não existia o ônibus, só a agulha cantando e as flores de cerejeira brotando de mim. O prazer da dor-agulha, o prazer de ser menina-bordada-de-flor.
Para que eu tomaria antitérmico? Antes da loucura tem sempre frisos e prazer.

2.3.11

Sensações de não pertecimento, o medo do outro e o egoísmo.

Cena 1. Alguém afana uma carteira no ônibus lotado. Ninguém vê.
Cena 2. Um homem enfurecido arremessa um vaso contra a sobrinha e a mãe.
Cena 3. Um homem encoxa uma mulher que não tem para onde fugir no metrô lotado - ela não reage como seus preceitos indicavam.
Cena 3. Um profissional experiente mina pouco a pouco o trabalho de uma assistente esforçada.
Cena 4. Duas meninas, saindo da faculdade, conversam por mais de 30 minutos sobre a enorme importância do cabelo para a mulher moderna. Nenhum assunto acadêmico.

Isso acontece a todo momento. O que não quer dizer que é normal. Não é. Não, as pessoas não demonstram poder pelo sexo, pela força, pela hostilidade. Isso não é poder. Expor suas forças é um jeito de demonstrar a fragilidade, a insegurança. O ataque não é a melhor defesa. Não é necessário atacar, desde que não se tenha defesas. E expondo o mais sensível e sincero de mim, tudo me atinge em cheio. Um encoxo no trem é o mínimo que se pode esperar: ninguém se revolta contra o que mantém os trens cheios, é obvio que empurrar e encoxar é o jeito mais simples de liberar suas tensões e frustrações do dia a dia no mais fraco. No impotente. The silence of the lambs. Não, ninguém é inocente. Mas todo mundo cala.
Sim, o mundo vai continuar torto, porque nós existimos, e existir é a única arma que ainda temos.

(e aqui tudo se torna um torvelinho, e tudo conflui para a MINHA existência)

Porque o choque, a afronta, o confronto pacífico foi o que eu escolhi. Por isso esse cabelo, por isso esse corpo, por isso essas tatuagens. Não, eu não vou me render ao esquadrão da moda e ceder minhas palavras de revolta e transformação em prol do cabelo. Eu não vou sacanear quem tem menos voz que eu. Nem no ônibus, nem no trabalho, nem na vida.
E não, eu não vou aceitar que essas coisas acontecem. Eu queria estapear a cara de todos os homens que usam do gênero/força para satisfazer um desejo. Eu queria fazer os políticos & donos de cia. de transporte entrarem na Sé todos os dias, às 18h. Eu queria explicar pra minha que ela não precisa se subordinar ao meu tio só porque ele é homem. Mas eu não posso. Porque eu sou eu, e impor minha visão aos outros é ser como eles. Porque eu não sou como eles.
Mas eu posso continuar vegetariana. Eu posso continuar gentil e sorridente. Eu posso continuar a acreditar na bondade, apesar de todos os contra-indícios. Eu posso me atirar sempre no que eu faço. E eu tenho o sumo, o extremo, o maior direito de chorar até soluçar. No ônibus, na rua, em casa, no trabalho.
Eu quero continuar mole. Eu quero ainda sentir tudo, intensamente.

Eu não tomo mais pílulas.

Para a Lulu, que não se importa quando as coisas ficam feias e está sempre aqui. E sempre íntegra, e sempre limpa.