20.4.11

Container.

Então, segurei o choro na garganta.
Da janela eu vi você subir no navio como quem vira a esquina, e se esparramar feito sombra no convés sem olhar para mim. Plantei os cotovelos fundo no batente da janela, enquanto você arrancava docemente aquelas raízes que seguravam meu coração no lugar dele. Eu puxava a âncora com os olhos, naquela esperança tola dos fiéis: se a âncora cair, ela fica. Se eu pedir a âncora cai. Fica. Fica. Fica.
O sal do mar foi levando embora as promessas de colchas bordadas, as promessas de café preto na madrugada, as promessas secretas: os acordos tácitos. As ondas cobrindo silenciosamente o ar das histórias que eu imaginei. Sentada na janela, eu e a praia. Nós duas fazendo castelos de areia, sem lembrar do vento. Sem lembrar da fúria. Sem lembrar da sua vontade.
Do lado de dentro da janela. Nada me acalma, nada me impede, nada me impele a correr atrás de você. Não tiro os olhos do mar, não tiro os olhos do seu navio, cada vez menos nítido. Não tiro as expectativas dos seus pés, que eu já sei o caminho. (Eu já supunha as vigílias a te escrever cartas de amor, a espera das cartas que nunca chegariam d'além mar.)
Sumiu a embarcação. Caíram as lágrimas.

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