11.4.11

Dentro da violência do mundo.

Estávamos ali, sentados em volta de uma imaginária fogueira, mas que de fato nos aquecia. Nós ríamos e fazíamos amor porque era o que nos restava debaixo do sereno da noite. Buscávamos qualquer afago nos olhos, garrafas ou beijos, mas o silêncio da noite entrava úmido por nossas alegrias. Éramos muitos e muito diversos, e os caminhos de todos os anos nos levaram até ali.

E ali sentamos. Bebemos. Esperamos. Esperávamos o amanhecer e a morte, o que nos encontrasse primeiro. Esperávamos a sorte de ter luz para caminhar em frente, ou ao redor, ou voltar pelas mesmas estradas de terra e solidão. Esperávamos a sorte do descanso para os pés cansados, para a vida já esgarçada. E sem premeditar, íamos colando os corpos, com desespero e fúria, a fim de termos qualquer felicidade e menos medos.

Devoramos. Os dedos, as palavras, os sexos. Devoramos as agonias, as lisergias, a plenitude. Devoramos sem mastigar. Engolimos tudo com a fúria da juventude - que se esvaía. Estavámos prontos para a morte. Felizes, vazios, cheios. Sujos de amor e ódio, terra e sangue, esperávamos com os olhos em brasas a hora que ela chegaria, e seria recebida num festim de álcool e gritos.

Mas.

Ela não veio. Pela manhã vestimos nossos preconceitos e trapos, despimos o sonho e o gozo da noite anterior. De cara limpa, nos dissemos adeus de olhos baixos e, nas primeiras luzes, tratamos de andar.

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