15.6.11

Como diria Fucô,

- Historiador... por que sê-lo? E se não sê-lo, como sabê-lo?
- Para sê-lo é preciso bebê-lo, para bebê-lo é preciso sabê-lo. E eu estou perdendo cabelo.
- Bebo porque é líquido. Se fosse sólido, comê-lo-ia. Careca mesmo.
- Tudo que é sólido dissolve no ar, até o fio capilar. É preciso entendê-lo.

com Filipe Nicoletti.

13.6.11

First breath after coma.


Existo ou só sigo respirando um ar sujo? Ânima que não pulsa, animal que não pulsa. Coexistir na rotina sufocante com a Cidade Sem Amor não é fácil.
Não é fácil aceitar a inflexibilidade do tempo, a certeza da morte que se anuncia a cada esquina. O tempo está correndo, nosso dia acabando. Não sobra tempo de amar, de chorar. Não dá tempo de ter medo, segurar mãos, não-há-não-dá-não-tem-tempo. O lindo futuro se nega a nos dar certeza, num nebuloso horizonte.
As perguntas existenciais, as chuvas torrenciais, os amigos. A corda no pescoço, o peitoril. Os pensamentos impiedosos que se desencadeiam sem sentido.


10.6.11

A militância e eu.

Estava conversando com uma amiga das antigas e ela disse: "Você largou de vez a militância, . Triste". Claro que eu, a Rainha da Culpa, me senti muito mal (por ser pelega), mas depois fiquei pensando sobre. Muito bem, eu não me junto mais com um grupo de amigos em nome do comunismo e da revolução social. Não, não mesmo, eu não acredito mais nisso. Tem um cara da faculdade que me chama de social-democrata (e isso desde o tempo em que eu ocupava reitorias por aí), e acho que um semi-conhecido nunca fez um diagnóstico tão preciso sobre mim. É isso, eu sou social democrata.
(O primeiro que disser que eu sou tucana, vai ter que engolir que o PT é de esquerda.)
Eu não vou mais levantar bandeira pra apanhar de polícia. Não que eu achei que não deve haver insurgência: deve. Eu acho que temos o direito e a força de nos rebelar, mas eu deixo isso pra juventude. É importante para a formação do jovem, eu e meus amigos todos fizemos isso e conhecemos gente, corremos da polícia, aprendemos a ter discursos furiosos e veementes. Mas eu sou velha, eu sempre fui. Meu esquema é outro, minha militância é outra.
Acordar cedo no sábado para dar aula da matéria mais chata pra adolescentes, para mim isso é política sim. E eu não acho que eu vá mudar o mundo com uma aula de cada vez. Pelo menos não o macro mundo. Mas se um daqueles alunos conseguir ter um pensamento um pouco mais crítico que a massa, isso será lindo. Se ele conseguir entrar pelo ProUni na faculdade que ele quiser, isso será incrível. Ser a primeira pessoa a se formar numa família é demais, é ter uma possibilidade a mais na vida, ter a possibilidade que seus pais não tiveram.
É uma chance no mundo capitalista, sim, mas onde é que a gente vive? Não acho que seja o melhor lugar para se existir, não sou a favor desse esquema. Mas penso que enquanto a revolução não sai (e tenta-se há mais de um século subverter essa ordem), as pessoas podem ter uma vida menos massacrante. E de igual importância é que todos pensem a sociedade, os direitos, os deveres, os medos, as felicidades criticamente.
Sinceramente, acredito que cabe a cada um de nós, os que se incomodam e não se acomodam, fazer tudo quanto pode ser feito. Não vou levantar as minhas bandeiras de vegetarianismo, ecochata e educadora, mas não dá para ficar quieto. Não dá pra engolir essa coisa na qual vivemos e chamam de mundo.
E, de qualquer modo, eu ainda sou da militância do Amor. E não precisa de passeata, não precisa de bandeira, não precisa de nada. Gentileza gera gentileza, mesmo que às vezes não dê pra enxergar isso. As pessoas são boas, mesmo que elas não saibam disso. Eu não quero desistir do que acredito. E sigo caminhando.
Eu larguei a militância de vez. Triste.