28.9.11

I'll never lose affection.

Não, eu nunca vou deixar de te amar. Porque andar é reconhecer, eu já sabia, mas andamos demais e para lados muito diversos, e agora só posso amar a lembrança. Que não é mais hipótese, como foi um dia, porque meu coração acabou salgado de tantas lágrimas. E nem todo o doce tem mudado isso.
Eu queria te amar como antes. Eu queria deixar você me amar também. Eu queria esquecer tudo quanto doeu e pular de novo, de braços abertos e olhos fechados, pro que tiver que acontecer. Mas não dá. Não dá, caralho, e me sinto incompetente no amor por isso. Falhei grandemente. Falhei no que eu achava que fazia de melhor.
E o que dói mais, é saber que eu te dei In my life. E, de novo, quem eu nunca vou esquecer fodeu com tudo. Hoje eu só preciso chorar, e tentar achar alguém que eu possa abraçar. Mesmo com aquela sensação de que nunca mais um abraço vai encher meu mundo.

Some are dead and some are living.

14.9.11

Caosmos.

E sentados na beirada do fim do mundo, com um mar de estrelas e vaga-lumes aos seus pés, eles cantavam e fumavam. Os pés balançavam, flutuando no precipício, e o dia guardado no fundo do céu muito escuro, dormitava antes de nascer. Uma lua muito branca. Uma noite muito fria.
- Você vê?
- Vejo.
- O que?
- Tudo.
- Posso tocar?
- Pode.
- Mas eu não alcanço.
- Experimenta voar.
E sem pensar na impossibilidade, ela voou.


Para meu amigo sonhado, Ariel.

12.9.11

Festa estranha com gente esquisita.

Uma festa numa casa, em Londres, numa época indeterminada. É o tipo de festa que você vai porque promete mudar a sua vida para sempre. E porque todo mundo vai. Você entra, segurando uma garrafa, olha todas aquelas pessoas em infinitos estágios de embriaguez, com estilos tão diferentes que você não consegue imaginar quem pode ter organizado aquilo.

Tocava uma música estranhíssima - que parecia uma mistura de Beatles ié-ié-ié com Nirvana, mixado por fãs de Daft Punk - quando a menina se deu por vencida e sentou num sofá. Fechou os olhos, deitou a cabeça para trás e deixou os braços soltos ao longo do corpo. Discutir com bêbados já é difícil num ambiente calmo; com aquela música infernal é impossível. Depois de um tempo tentando - em vão - arrumar os pensamentos, tomou um susto ao ouvir uma voz ao seu lado.
- Que festa, hein.
E isso foi dito com um tédio infinito, por um rapaz loiro, de óculos escuros. A expressão de estranheza dela fez com que ele disse:
- Ressaca. Por isso os óculos.
E como não tivesse nada melhor pra fazer ali, começaram a conversar (enquanto um grupo de - talvez - teatro arrancava a roupa, recitando a bíblia, ora em aramaico, ora em inglês). Ela argentina; ele ianque. Ela estudava RI, estava em intercâmbio; ele tinha ido de férias há dois anos, acabou arrumando um trabalho como cartunista e ficou. Ela vegetariana, por ativismo; ele vegetariano, "por nojo, mesmo". Ela escrevia como correspondente pra um jornal estudantil na sua universidade de origem; ele evitava ligar para os pais (único vínculo que ainda tinha nos EUA, além da excêntrica ex-namorada Susie, com quem trocava postais) mais que uma vez por mês.
Por fim, sentaram do lado de fora, onde estava agradavelmente menos barulhento, e descobriram afinidades impensáveis. Acabaram travando uma discussão sobre os problemas da humanidade (ele, com um tom anárquico, queria dizimar as regras e todas as hierarquias de poder; ela acreditava nos movimentos populares e na boa governança, ainda que não convictamente). Partilharam suas ideias sobre o cosmos (ele admitiu que, secretamente, esperava viver longe de tudo e de todos, num planeta só seu, com tv e microondas; ela dizia achar triste que a humanidade já mapeasse as estrelas, e até fizesse as suas próprias).
Quando se deram conta do adiantado da hora, já amanhecia, a carona dela já tinha ido embora e ele ainda pensava sobre dormir por ali, caso achasse um lugar vago. Ouvindo os passarinhos cantarem, sob a luz de um céu cinzento, eles perceberam que não tinham se apresentado.
- Calvin, mas pode me chamar de Spiff.
- E eu, sou a Mafalda.

9.9.11

Um conto de amor

Era uma vez nós dois, tu e eu, encontrados na vida. Dessa vez, tu apaixonado em mim, como eu apaixonada em tu, e uma tarde muito ensolarada, seus dedos brincando com uma pétala vermelha, da rosa que te dei. E depois um beijo, gelado de sorvete, cheio de risos, sorrisos e o arrepio da pele, que já esperava, ansiosa. E depois veio a espera: o não saber. E, ansiosa de tudo, desejando tudo, eu corro, e brinco e faço caos no seumundo. E vou entrando na sua vida, porque você já está espalhado em toda a minha.

E o tempo traz aos poucos poeira, cansaço. Andamos pra outros lados, para tantos lados até não haver na vida mais encontro. Dois estranhos que teimam em dividir a cama, até preferir não sonhar a juntar as solidões. Desencontro.

Tempotempotempotempo.

Até o dia do dos olhos, em que suas tatuagens parecem mais bonitas que na juventude. Eu já não tenho mais amores tatuados. No chá no centro da cidade, com vista para o mar de carros, a cumplicidade está ali. Como se andar por mil caminhos tivesse nos levado para a mesma Roma. E não cabemos na nossa ansiedade, e um beijo quente, de bergamota. Cheio de medos, dúvidas, e uma entrega absoluta. E não teve o que esperar, porque os dias já eram de verão, o Amor já era uma árvore, e deu flor.

E era o nosso pequeno reino do Amor, uma casa cheia de cor e de gente colorida. Eu, tu e nossas namoradas. Eu, tu e um mininós. Eu no templo, com o bebê, esperando o dia de voltar pra casa. A criança indo pra escola, tatuando os amigos com canetinha. Eu plantando flores no jardim. Você viajando o mundo. Eu sigo apaixonada, você descobre outros mundos. Você ensina o nosso filho a voar também. Eu espero, cultivando aromas para a casa tão imensamente vazia.

Vou amando meus alunos, meus livros, meu piano, enquanto te espero. E quando você chega, eu te beijo as mãos e os olhos. Já é muito tarde, a noite chega devagar. Adormecemos sentados num sofá, olhando o céu imenso.

Anoitece na minha vida, uma vida cheia de amor.

7.9.11

Ceci n'est pas une tattoo.

Ser impulsiva não mata. Ter paciência também não. Eu esperei a gente brigar mil vezes, você morar longe, eu fugir pro seu sofá pra te dizer: is this it: i love you, bitch.
Mesmo sem pensar tanto, eu sinto tanto. Mesmo no grito, eu lembro de ficar em silêncio. É isso aí, a vida nos leva pra esses lugares. Pro Guaíba, pro Broto, pro Ettore, prum estúdio de tatuagem vermelho.

Taí. E agora, babaquinha, é pra sempre. De algum jeito, você ia se lembrar de mim.