18.6.12

Dentro da menina ainda dança.

Ela levava a vida na ponta dos pés. Equilibrava-se entre as manhãs e os amanhãs, com a delicadeza de bailarina, resignada, constante. Mas era domingo e a televisão incomodava. O cochilo na tarde cada vez mais furtivo, a agonia no peito cada vez mais persistente e num arroubo decidiu mudar de mundo. O cabelo escorregava preguiçoso pelas costas desenhadas, e sem medo, com uma faca cortou as longas pontas, as expectativas, o futuro, o cordão umbilical. Fechou roupas dentro da mochila.
Pedindo carona na estrada, indo pra lugar nenhum, ela pensou o seu viver. Tinha andado em linha reta para um final feliz, quando só queria perambular tortuosamente, sentir o cheiro da terra do caminho, o álcool de todos os vinhos, o gosto das bocas famintas. No meio da noite, os pensamentos se organizaram, a sapatilha de ponta ficava cada vez mais longe, os pés precisavam tocar a terra.
Conheceu cidades, amou pessoas, viveu histórias mirabolantes e, com surpresa, descobriu que não ter futuro era o melhor plano para os dias.
Mambembe, equilibrava a vida na ponta dos dedos. 

para a Marina, bailarina, fugida, musa.

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