11.12.12

Prelúdio.

- mexe qualquer coisa dentro doida
já qualquer coisa doida dentro mexe.
(caê)

Como num bordado imenso, a beleza, a bossa vêm da repetição. Esperamos com calma o tempo de trançar as linhas que esboçam um desenho que não enxergamos, porque enorme. Que não tem fim, porque espontâneo. Não sabemos o que virá. Como virá. Se virá. 
Sei dos matizes, das cores, dos tons. Sei dos cinzas, dos hiatos, dos nós. Se enquanto traçamos sobram-nos as lágrimas e os ais, faltam as razões, desviram-se em fins. E só quando se torna passado enxergamos a luz e os brilhos, porque tem escuridão. Os vazios delimitam os detalhes mais sutis. Mais nossos. Ainda que o tempo-espaço seja cruel e fira os desejos, extrai com cuidado os aromas mais profundos. 
Somos bicho, pele, cheiro. Fome, instinto, tesão violento. Fluídos, suor e sangue. Numa noite carregamos energia luminosa para clarear os caminhos tantos outros. Expostos.
Somos verbo, poema, canção. Escolhemos a dedo as palavras-imagens que se erguem como castelos entre nós. Translúcidos e etéreos, juramos sob a lua vazia as delicadezas que só cabem a nós. Que esmiuçamos  ao longo das noites mais molhadas de saudades e desencontros. Delicados.
Afino meus gestos para seus acordes precisos. Sinto a pele, as ideias emaranhadas. Me misterio para você descobrir. Desabrocho, para você me tocar.