4.2.13

ovo.

Uma saudade incomensurável de tudo quanto é quente, redondo, macio. A procura desesperada pelo amparo impossível nos copos, nos corpos, nos delírios. Um vazio devorando aos poucos tantas certezas, tantas adultezas. Nem gato, nem língua, nem livro, nem birita, nem cigarro.
Nada me acalma.
Nada me preenche.
O choro fica meio engasgado, meio deslocado. Não tem motivos pra chorar. Não é saudade: é uma precisância enorme do cheiro da cozinha da avó, de dançar descompassada com o avô. De dar colo pro primo, e contar história, e dividir as histórias da vida, e pintar com lápis, e fazer bolo de chocolate com recheio de chocolate e cobertura de chocolate e confeitos de chocolate e comer dois pedaços com Toddy. É passar a tarde ouvindo as histórias da casa e os porres dos tios e as histórias de de velório, de churrasco, de acidente de carro. É ouvir as mesmas brigas sobre quem é quem nas fotos preto-e-brancas, já velhas, meio esquecidas. 
É a vontade de ficar embaixo da mesa pra ganhar cafuné de mãe. De ter que levar casaco e guarda-chuva e ligar se for atrasar. É ter que ir ao médico emburrada. É se sentir meio adolescente sendo controlada pela mãe e adorar isso. E pedir pra dormir junto e desistir no meio da madrugada, porque é cedo, porque precisa fumar, porque.
É odiar ter quebrado a casca do ovo, e só saber tudo isso por tê-la quebrado.