26.5.13

Derramamentos #1

Da flor, o mistério. Não sei se sabes, mas eu não sei. E o não-saber-não-ser-sem-desser, mais saboroso que qualquer olhar, vai adoçando meus dias, e pinga-pinga-pinga assim, delicada. Te brota em mim, hortelã, folha atrás de folha - dobrada, verdejante, um coração; cheiro atrás de cheiro - meninamulher. E enche meus dias de borboleta e abelha e mel. 
Me desviro num jardim, metade sabor, metade cor, só para te encantar. Desviro os versos em frutas, que seus lábios gostam, sorriem. Me encanta seu sorriso, assim, enviesado. Ou daquele jeito outro, escancarado. E os lábios num biquinho, passarinha, para me desvirar em nuvem, flutuo, a brisa me desfaz. Chovo em mim e não te alcanço.  
Fico, sem querer, na ponta dos pés. Pisco as pestanas, cheias de orvalho, para te ver, bailarina, pisando levinha aqui-e-ali. Me estico até lá longe e não te toco, não sei seus macios nem seus quentes. Do que me resta, contemplo seu existir tão tocante, com dedos tremelicando, coração na gangorra. E, mesmo antimusical, solfejo meus ais em mi menor, e lá.

De todos os mistérios do planeta, tinhas justo que ser a flor.

13.5.13

Da adolescência tardia.

Uma onda imensa, um calor intenso, estrelinhas que piscam-piscam-piscam. Me sinto adolescente, desistindo e recomeçando, acreditando na felicidade. Acredito tanto que o mundo vai ser mais doce, eu vou viver de suspiros, risinhos e asas de borboleta. Não consigo aceitar as obrigações cinzas e enfadonhas porque sim, quero motivos doce para caminhar, para seguir, para querer viver.
Sinto tudo e sinto tanto, pulso inteira, tremo com as menores brisas, os sutis toques, os subliminares verbos. Escrevo como se escrevesse um diário, cheio de poemas e corações. Vivo como se vivesse um diário, com canções bobinhas, segredos com amigas, códigos secretos, escondendo as doçuras e mistérios de tudo quanto não pode ser tocado.
Vivo as amizades queridas, anoto nas bordas dos livros, bebo demais, me apaixono pra sempre a cada sexta-feira, parto meu coração e esqueço que ele está partido, assisto Amélie Poulain. Escrevo cartas jamais entregues, esqueço de lavar a roupa, deixo o esmalte roído, ligo no meio da noite pra não me sentir sozinha.
É euforia e vazio, festa e solidão, amortotal e lágrimas de água do mar. 

Dentro de mim, é tudo névoa e sparkles, e sininhos tocam no caminho do vento. Só queria poder abraçar o mundo com sutilezas.