20.8.13

Solidão agosto, relendo.

Desde que comecei a procurar casa, desde sempre em Porto, olho casas com desejo. Todas, as viáveis e as não. No mundo dos quereres, tudo é possível, tudo é viável, tudo é divino e maravilhoso. Quando decidi me mudar com os amigos, tantos deles, o olhar se refinou, as placas de aluga-se saltavam aos meus olhos. A pé, de bici, de dentro dos ônibus. 
Agora eu não tenho casa. Eu existo no tempo, em muito espaços. Um pouco lassa, um pouco extenuada, um tanto inexistente. E no meu caminho de rotina tem a rua da República, e sua imensa casa vazia. Seu enorme jardim largado. Seus espaços em hiatos. Eu vazia dela, ela vazia de vida. Eu transbordante de vida, ela seca e sussurrante, ávida.
Me consome saber da vaziez da cidade, das casas fantasmas, da poeira assentando sobre tudo que caberia num mundo doce: ninhos, afetos, travesseiros. Vagamos nós, famintos, friorentos, como uma gota que pinga no vazio, o eco. Reverbero inteira sem nenhuma certeza. 

E quando chove, sinto até os ossos gelados, nessa cidade blasé e sem ternura. Fico parada, desejando estar mais ali. Mais dentro. Entranhada naquele cimento. Eu seria boa para ela, com uma panela quente e fumegante, meus amores enrolados num tapete felpudo. Eu seria lar para aquela casa tão só. 

Sigo amando 
só 
a casa 
sem nó.

Nenhum comentário: