30.1.14

Declaração de amor partido

para ler ouvindo

Eu não sei se é o calor ou se são os dedos. Não sei se são os cílios ou o laranja. Eu não sei de onde vem, e jamais posso imaginar onde vai dar. Eu não durmo, eu suo, eu enrubesço só de pensar.
Me deixo viver aquelas borboletas no estômago que só existem quando se é adolescente demais para não sonhar um beijo, de tantas formas de um jeito docinho e cinematográfico. Imagino o cheiro do hálito, imagino os nós dos dedos se esfregando nervosos nos meus. A pontas dos dedos coladas, que me fazem ofegar. 
Esses sentires desgovernados, anárquicos, libertários e libertinos. Sem entender nada, eu vivo esse mar de possibilidades, sem saber qual delas me atrai mais. E mesmo em rebuliço por dentro, nada pode perder seu rumo, porque é de afeto e sem dúvidas.

- onde será que ficam as mãos quando você beija?

26.1.14

Tangentes cotidianas.

para morrer ouvindo

Tudo certo. Tudo muito certo. Tudo mais certo do que eu poderia prever. E então?
Não entendo a angústia, o marasmo, a inércia. De onde vem o medo, quando nada te amedronta? Queria virar um ovo, me prender dentro de mim, e me olhar até que eu me enxergasse de verdade. 
Respiro, medito, faço um bolo, toco uma musiquinha que me faz sentir adolescente. Os sentires são enormes, as sacações cotidianas tem tudo para me impulsionar para o mundo.
Mas permaneço aqui
e s t á t i c a
à espera de um estopim que jamais virá, porque meu. Porque catártico e ninguém pode romper a minha inércia.
A verdade é que a felicidade me assusta e eu quero jogar o corpo no mundo e sofrer de verdade pra não sofrer esses sofreres escusos. É que morro de medo de ser feliz. E por isso escolho as paixões mais ao revés, invisto nos erros, padeço o corpo por mera insistência. Sorvo passados, por pura preguiça do novo.
Sonho uns pés, os seus nos meus. Sonho uns pés, calçados com um sapato de sola grossa que nunca tive, mastigando poeira e rio e incerteza e mapas. Sonho uns pés, enrolados em gatinhos e lãs.
Fico aqui, maldizendo o presente. Com saudade do passado, cheia de ânsia pelo futuro, fingindo não saber que é tudo
tudo
retudo
póstudo
tudo
tudinho
a mesma coisa, a mesma repetição, o mesmo amor.

Que venha toda manhã, de luz e claridade.