21.2.14

amora.

para ler ouvindo

essa coisa doida que é o amor.
de repente, a gente se perde de si e vira o outro. se desvira em amor puro, que é salgado e corredeiro. o seu dentro, o seu medo e a sua dor são só a ponta do nó. e de repente, o universo é um ronron, a felicidade é um olhar, e eu já não sei ser sem você.
estranho e novo experimentar esses amores constantes, perenes e peludos. esse amor silencioso, cheio de gestos e nenhum verbo. é entender seu medo da água e o fascínio pelo que tem detrás do muro. é não parar de pensar se o seu motorzinho é afeto ou hábito, morrer de medo que você não saiba quem eu sou, que a aventura seja mais legal que o ninho - e ainda assim abrir toda noite a porta pra você sair.
é ter certeza de que somos pedaços de um mesmo sweet jardim, só de você me encarar com seus olhinhos de oceanos, se aconchegar e dormir.

eternamente filhas, irmãs e amóris.

7.2.14

Geografias #1

Era uma rua quase conhecida, mas mais pela insistência que pelo antes. Por isso mesmo, tanto fazia o lado, e eu ia de uma quadra para outra, ajeitando os óculos para parecer vagamente preocupada, vagamente distraída, e pedindo em silêncio para que ninguém enxergasse que, na verdade, eu estava perdida. 
Virei de costas para acender um cigarro no outro. Não acho que fosse da conta de ninguém, mas podia parecer desespero, tantos cigarros, a garrafa quase vazia. Tomei um café, em pé no balcão, sem tirar os óculos. Voltei duas quadras, para perto dos portões verdes e das rosas colombianas. Cena de cinema.
Parei em frente ao portão que um cachorro me olhava, muito sério, com uma cara de gato. Pensei se valia esfregar o focinho dele (não valia). Pensei em sentar no meio fio, que é um dos lugares mais confortáveis do universo (não sentei). Usei três cores pra pintar um retrato seu, com a cara no meio das árvores. Ficou ruim, mas não joguei fora.
Acendi mais um cigarro, mais pelo tédio que pela vontade de fumar. O calor que se desprendia dos meus braços subia em espirais fumaças de incenso e se misturavam com a claridade agoniante das manhãs de domingo. Fingia ouvir passarinhos e rios, mas os carros entupiam meus ouvidos com seus gemidos programados.
Sem querer ser previsível, fiz o que já sabia: tracei o percurso afetivo do próximo amor mapeado, lembrei das coisas que não precisavam ser carregadas e descobri minha próxima fuga inevitável.