25.8.14

O dia em que descobri o meu clitóris

Catalisada, comecei a pensar sobre os nós que estavam dentro de mim, das coisas mal resolvidas, inflamando com o passar do tempo, me ferindo e como isso é díspar com o que acredito. Me analisei, como se eu visse sob a perspectiva ideológica o que é puro sentimento. Desatando esses nós, me senti mais livre, mais eu, encontrada dentro do caos de mim que eu venho navegando com dificuldade e sem prazer.
Viajando dentro de mim, sem querer, deixei o corpo fluir. Como se a vontade do corpo fosse soberana, e nenhuma das minhas noias e medos tinham espaço, não ali. A fricção das coxas (tão adiada) virando puro prazer. O ondular da carne e a fruição dos movimentos, a descoberta do corpo, a viagem pelas minhas próprias transas, sentir o milagre da lingua da g. no meu grelo, que me causou furacões e nunca mais senti isso, com ninguém. E isso me dar mais fome de senti-la.
Lembrar de tudo que eu odeio em transas que andei reproduzindo com a t. Dominar de um jeito próprio da energia masculina, ao invés de permitir a fluidez que me encanta e que sinto saudade. Perceber que fui me tornando máquina, devagar, com o passar do tempo. Descobrir a delícia de me tocar devagar, sentir o que o corpo pede, em ondas.
Não sei se eu nunca tinha entrado num transe assim, ou se nunca estive tão relaxada, ou o que quer que tenha acontecido, eu senti o meu clitóris inchar e irradiar uma sensação de dormência pela minha buceta, meu estômago, minhas coxas, meu cu, meu útero. Tudo bem lento e morno. E de repente, como se não houvesse mais para onde expandir, explodir. A garganta fechando, os mamilos formigando, estrelinhas caindo por tudo, devagar, piscando. Pequenos choques elétricos, o coração ardendo sem ritmo, a boca mais seca do mundo.
E nada me preparou para o que eu senti: uma luz verde e quente irradiando do meu clitóris, dançando pelo meu corpo, expandindo meus sentires, abrindo fechaduras que eu nem conhecia. Me conheci de novo, o ano recomeçou, tudo diferente. 
Me senti muito grata ao universo por me conhecer tão doce antes de encontrar outras pessoas que quero tanto tocar , viver, experimentar. A generosidade do cosmos, e quantas vezes esquecemos de ser gratos. E que sorte eu tenho de me ver, me enxergar e me permitir transformar.